Caso de envenenamento choca pequena cidade no norte do Tocantins e levanta preocupações sobre proteção à infância e juventude

Envenenamento na pequena cidade de São Bento, localizada no norte do Tocantins com aproximadamente 5.000 habitantes, foi abalada por um crime que chocou a população local. Uma adolescente de 13 anos, identificada pelas iniciais J.K.B.A., confessou ter envenenado a própria mãe, Cleudimar Sousa Bezerra, que faleceu após 21 dias internada em estado grave. A irmã da menor, Kauanny Bezerra, também foi vítima do envenenamento, mas felizmente sobreviveu e passa bem.
Uma cidade em choque
São Bento do Tocantins é um município pequeno, conhecido pela tranquilidade e pelas fortes relações comunitárias entre seus moradores. Fundada em 1992, quando se emancipou do município de Araguatins, a cidade tem sua economia baseada principalmente na agricultura familiar, pecuária e serviços públicos, cerca de 140 km de Araguaína Tocantins.
Com uma população estimada em 4.862 habitantes, segundo dados do IBGE, São Bento é uma dessas cidades onde “todos se conhecem”, o que torna o crime ainda mais impactante para a comunidade local. A notícia do falecimento de Cleudimar, pessoa querida na região, causou comoção e incredulidade entre os moradores.
Cronologia de uma tragédia anunciada
De acordo com informações levantadas pela nossa equipe de reportagem, o caso começou a se desenrolar ainda em outubro de 2024, quando a menor fugiu para Palmas, capital do estado, com o marido de sua tia, que é irmã da vítima.
Após um período de preocupação e buscas por parte da família, a adolescente foi localizada pelo Conselho Tutelar e reconduzida para São Bento. Foi a partir desse retorno que, segundo relatos, a jovem começou a demonstrar comportamento vingativo.
Conforme apurado, desde outubro a menor teria iniciado a administração de pequenas doses de veneno na água consumida pela mãe e pela irmã. Em abril deste ano, Cleudimar apresentou sintomas graves ja com sequelas do envenenamento que a levaram à internação hospitalar em estado crítico. Após 21 dias de luta pela vida, ela não resistiu e veio a óbito na madrugada do dia 1 para o dia 2 de abril, sofreu 3 paradas cardíacas e estava com 90% do pulmão comprometido por complicações do envenenamento.
A confissão do envenenamento pelas redes sociais
O caso ganhou contornos ainda mais perturbadores quando a própria adolescente confessou o crime de envenenamento através de suas redes sociais. Em mensagens compartilhadas publicamente, ela não apenas admitiu o ato, mas também tentou justificar suas ações:
“Botei mesmo, mais duvido se a desgraçada que falou isso aí de mim fala que ela agarra Deus é o mundo aqui em São Bento”, escreveu a menor, em referência à acusação de envenenamento.
Na mesma mensagem, a adolescente tentou justificar suas ações: “E outra, ninguém fala o que eu passava dentro de casa, por isso eu fui pra Palmas, é porque eu queria sumir pra amenizar meus problemas. Todo mundo fala mal, mais ninguém sabe o que eu passei pra ter feito isso.”
A menor também fez questão de esclarecer sua ida para Palmas: “E outra, eu fui pra Palmas foi só, viu amores, ele só me deu o dinheiro pra eu ir, mais foram atrás”, disse, aparentemente se referindo ao marido da tia.
Em outro trecho da mensagem, a adolescente minimizou a gravidade do estado de saúde da mãe, ainda antes do falecimento: “E outra, a minha mãe não tá quase morrendo coisa nenhuma, e eu posso até ter ido embora de casa mais todos os dias eu ia ver como ela tava e arrumar a casa pra ela!”
Comunidade em luto
Cleudimar Sousa Bezerra era muito estimada em São Bento. tinha participação ativa na comunidade. Sua morte prematura por envenenamento da própria filha, causou forte comoção entre familiares, amigos e conhecidos, que têm prestado homenagens nas redes sociais e participado de momentos de oração em sua memória.
“Cleudimar era uma pessoa extraordinária, sempre pronta a ajudar quem precisasse. Não consigo entender como isso pôde acontecer”, comentou uma pessoa próxima que preferiu não se identificar.
Uma amiga próxima da família compartilhou: “Estamos todos em choque. Cleudimar amava seus filhos acima de tudo e sempre se esforçou para dar o melhor a eles. É uma tragédia incompreensível.”
Questões legais e a proteção de menores infratores
Até o fechamento desta reportagem, a adolescente permanece em liberdade, mesmo confessando envenenamento da mãe e da irmã. De acordo com especialistas em direito da infância e juventude consultados por nossa equipe, o caso levanta questionamentos importantes sobre os procedimentos legais envolvendo menores infratores em casos graves.
Dr. Paulo Mendes, advogado especialista em direito da criança e do adolescente, explica: “O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevê medidas socioeducativas para menores que cometem atos infracionais, mas não penas no sentido estrito como ocorre com adultos. Em casos graves como este, as autoridades devem avaliar a necessidade de internação em estabelecimento educacional, além de acompanhamento psicológico e social.”
O advogado ressalta que, mesmo sendo menor de idade, casos envolvendo crimes graves como homicídio devem ser investigados com rigor: “A condição de menor não significa impunidade. O ECA prevê medidas que podem se estender até os 21 anos de idade, dependendo da gravidade do ato infracional cometido.”
O papel do Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar de São Bento não se pronunciou oficialmente sobre o caso, alegando sigilo para proteger a identidade da menor. No entanto, fontes ligadas ao órgão confirmaram que a adolescente estava sendo acompanhada desde seu retorno de Palmas.
Especialistas apontam que casos como este evidenciam a necessidade de fortalecimento da rede de proteção à infância e juventude, especialmente em municípios menores, onde os recursos são mais limitados.
“É fundamental que haja uma atuação integrada entre Conselho Tutelar, escolas, serviços de saúde e assistência social para identificar precocemente situações de risco e intervir de forma adequada”, afirma a psicóloga Maria Cecília Santos, especialista em violência familiar.
Questões que permanecem
O caso levanta diversas questões que ainda precisam ser esclarecidas pelas autoridades:
- Qual substância tóxica foi utilizada no envenenamento?
- Como uma adolescente teve acesso a tal substância?
- Por que, mesmo após a confissão, nenhuma medida judicial foi tomada até o momento?
- Houve falhas na rede de proteção que poderiam ter evitado o desfecho trágico?
Repercussão nas redes sociais
O caso ganhou repercussão nas redes sociais, onde moradores de São Bento e região expressam indignação com a situação. Muitos questionam a ausência de uma resposta mais firme das autoridades, enquanto outros chamam atenção para a necessidade de compreender os fatores que levaram a menor a cometer tal ato.
“É um caso que precisa ser olhado por todos os ângulos. Uma tragédia familiar que reflete problemas mais profundos na nossa sociedade”, comentou um internauta em uma das publicações sobre o caso.
O que diz a lei
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece medidas socioeducativas para adolescentes que cometem atos infracionais, que podem incluir:
- Advertência
- Obrigação de reparar o dano
- Prestação de serviços à comunidade
- Liberdade assistida
- Inserção em regime de semiliberdade
- Internação em estabelecimento educacional
No caso de atos infracionais graves como homicídio, a medida mais severa é a internação, que pode durar até três anos, com liberação compulsória aos 21 anos de idade.
Como procurar ajuda
Casos de violência familiar ou situações de risco envolvendo crianças e adolescentes podem ser denunciados através dos seguintes canais:
- Disque 100: Disque Direitos Humanos
- Conselho Tutelar local: Presencialmente ou por telefone
- Delegacia especializada: DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente)
- Ministério Público: Promotoria da Infância e Juventude
Esta reportagem será atualizada conforme novas informações forem divulgadas pelas autoridades.
Por questões legais e éticas, preservamos a identidade completa da menor envolvida no caso.
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